Em Roterdã (Holanda) e Antuérpia (Bélgica), os maiores portos da Europa, hoje a sincronização dos modais é levada a pontos extremos. Por exemplo: uma mercadoria, vinda por caminhão, trem ou navio, só pode chegar ao terminal sete dias antes da data prevista para a entrada do navio que a transportará para outro porto. Se o embarcador o fizer antes desse prazo, os custos disparam porque, afinal, o espaço é algo vital e precisa ser extremamente bem administrado para que a mercadoria não fique no porto nenhum dia além do necessário.
Isso se dá porque o custo de transporte pesa por demais sobre o preço final de um produto, pois é necessário ao detentor da mercadoria pagar não só as despesas suscitadas pela movimentação entre dois pontos como as despesas relacionadas com a manutenção de estoques em trânsito. Por isso, a logística procura selecionar o transporte que apresente menores custos e atenda às necessidades do consumidor.
E não só. É preciso também diminuir ao máximo possível o tempo necessário para a movimentação do produto, pois, afinal, quanto mais rápido for o transporte, menor será o tempo em que o espaço no armazém ficará indisponível para outra mercadoria. Por isso, sai na frente a transportadora que reúne condições de cumprir os prazos previstos para a movimentação do produto, com os menores custos possíveis. Esses custos, especialmente no transporte rodoviário, que movimenta 61% das cargas no País, são divididos principalmente entre despesas nos terminais e em trânsito. E as despesas nos terminais, com coleta, entrega, manutenção de plataformas e de faturamento e cobrança, representam de 15 a 25 % dos custos totais.
Isso se explica pelo fato de que, hoje, a compra ou a venda de um produto obedece a um conjunto de necessidades que levam em conta apenas preço, qualidade, agilidade de entrega e sobretudo confiabilidade. Em face da forte concorrência e da constante variação no comportamento dos consumidores, as empresas tratam de buscar práticas que ofereçam vantagens em relação aos concorrentes, pois só assim mantêm e conquistam novos clientes.
Em outras palavras: a tão decantada produtividade é possível apenas com a redução de custos e um serviço perfeito de atendimento ao cliente, o que só se comprova se o cliente estiver com o produto adquirido nas condições, quantidades, hora e lugar definidos ao momento da compra. Se um desses itens não funcionar a contento, fica claro que o cliente não só vai reclamar como ainda, muitas vezes, comunicar a decepção a outros parceiros. E essa queixa hoje não se transmite mais apenas no chamado boca a boca, mas através dos meios digitais, em velocidade incalculável.
Para alcançar esse objetivo, muitas empresas que possuíam frota própria resolveram terceirizar parcial ou totalmente o transporte, já que manter uma frota de caminhões e carretas exige uma estrutura administrativa complexa com motoristas, ajudantes, mecânicos, supervisores e auxiliares para manter os veículos em dia. Mas ainda assim a excelência dos serviços acaba por fugir ao controle das empresas, pois, muitas vezes, há erros ou demoras provocados por terceiros e, principalmente, pela deficiente infraestrutura do País.
Portanto, é fundamental que haja cada vez mais uma sincronização entre os modais, o que depende em grande parte de investimentos públicos em rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos. Assim, tornam-se cada vez mais prementes a restauração e a finalização de malhas rodoviárias e ferroviárias e a construção de instalações portuárias, além de melhorias no setor aeroportuário. Ao mesmo tempo, é preciso aumentar o número de concessões de terminais portuários ao setor privado, o que inclui o capital estrangeiro.
A esperança é que, ao oferecer concessões nas quais as empresas pagam ao governo uma taxa para operar as instalações e se comprometem a fazer grandes investimentos, o Brasil estimule sua economia e retome o crescimento. Nesse caminho, talvez, um dia, os principais portos brasileiros cheguem ao padrão exibido por Roterdã e Antuérpia.
Liana Lourenço Martinelli, advogada, pós-graduada em Gestão de Negócios e Comércio Internacional, é gerente de Relações Institucionais do Grupo Fiorde, constituído pelas empresas Fiorde Logística Internacional, FTA Transportes e Armazéns Gerais e Barter Comércio Internacional. E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
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