Embora os meios de comunicação, com razão, estejam preocupados em dar espaço às consequências causadas pela pandemia do coronavírus (covid-19), não se pode deixar de lado as questões referentes ao comércio exterior. Nem deixar em stand by este tema porque o soerguimento do País vai depender fundamentalmente da maneira como enfrentará o esgotamento financeiro das demais nações, pois, em determinado momento, está claro que não haverá recursos para fazer frente à desaceleração econômica pela qual o mundo passará, numa situação similar ao pós-Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Ou seja, este é o momento de o empresariado brasileiro assumir o seu papel na condução da crise, pois, como disse o empresário suíço-brasileiro Jorge Paulo Lemann, considerado em 2019 pela Revista Forbes como o segundo homem mais rico do Brasil, é em situações como a atual que surgem as grandes oportunidades que poderão permitir melhorar a condição do País, aumentando o número de parceiros comerciais não só com as commodities agrícolas e o minério de ferro, mas também com produtos de baixa e média tecnologia.
Para tanto, não se pode mais levar em conta o argumento segundo o qual o crescimento restrito de nosso comércio internacional se deve ao protecionismo que os países mais avançados dão a produtos no quais o Brasil seria mais competitivo. Na verdade, isso não justifica o fato de o Brasil exportar menos da metade do que um país com renda nacional semelhante à nossa deveria fazê-lo, ocupando a modesta posição de 27º colocado no ranking de exportadores da Organização Mundial do Comércio (OMC). Basta ver que o volume de nosso comércio é hoje menos de um quarto daquele praticado pela Coreia do Sul, quinto maior exportador, e um terço daquele praticado pelo México, 13º.
Diante disso, é preciso estabelecer uma estratégia para recuperar parte das exportações daqueles produtos de baixa e média tecnologia que hoje estão praticamente em mãos asiáticas. Essa situação, inclusive, vem provocando sérios problemas de abastecimento, pois, em razão da pandemia, a procura por máscaras e vestimentas para médicos e enfermeiros tem obrigado compradores a fazer filas de aeronaves no aeroportos chineses, aguardando suas encomendas, muitas das quais têm sido canceladas por falta de produção para atender à demanda.
Portanto, levando em conta que a taxa do dólar em relação ao real é altamente favorável para os produtos made in Brazil, este é o momento de os exportadores fazerem um esforço para acelerar as vendas ao exterior, adotando uma política mais agressiva. Ao mesmo tempo, o governo precisa fazer a sua parte, reformulando o atual sistema tributário que é escorchante e corta ganhos da atividade produtiva e do trabalhador, além de criar programas de crédito para estimular a modernização de máquinas e equipamentos nos setores agrícola e industrial.
É de se lembrar que o Brasil sempre teve espírito exportador e seus empresários participavam mais de feiras, com o apoio de governos anteriores em campanhas promocionais dos nossos produtos. Essa situação, porém, de uns anos para cá, foi abandonada sob o falso pretexto de que, se falta competitividade ao nosso produto, de pouco adianta fazer promoções no exterior ou participar de feiras. Em vez de se focar apenas o agronegócio, pode-se imaginar uma campanha que agregue valor à matéria-prima. Como exemplo, pode-se citar o caso do café: quantas máquinas e cápsulas do produto o Brasil poderia ter vendido, se houvesse uma integração entre os produtores de café e os fabricantes de equipamentos?
Em outras palavras: enquanto o Brasil não superar os obstáculos que estão aqui mesmo, pouco vai adiantar combater as barreiras levantadas pelos países mais ricos.
Milton Lourenço (1953-2020) foi o fundador do Grupo Fiorde, constituído pelas empresas Fiorde Logística Internacional, FTA Transportes e Armazéns Gerais e Barter Comércio Exterior (trading company). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
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